terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

OPINIÃO: Greve, Polícia Militar e Sociedade

A greve da força policial na Bahia é uma opção danosa para a sociedade, coloca em risco o patrimônio público e privado, põe em risco as pessoas que por algum motivo, se reconhecem como pessoas comuns, embora a minha percepção não consiga vislumbrar quem seja comum ou incomum, possa ser que exista alguma explicação freudiana ou kafkaniana sobre o assunto.

Mas isto não importa, as pessoas não estão muito incomodadas com a questão salarial da PM, estão incomodadas com a quebra das suas rotinas, algumas sentindo falta do ar frio e bacteriano dos escritórios, dos engarrafamentos e do pão abaixo do peso na padaria da esquina. O direito particular de ir e vir esta sendo conspurcado devido falta de “consciência” de uma categoria “essencial’ ao controle da ordem social, que reivindica melhores condições de trabalho e vida.

A impressão que se tem, é que antes deste movimento grevista ocorrer, não existiam barbaridades e violências domésticas ou urbanas, com crimes hediondos e atrozes, tudo começou com a deflagração da paralização. Tais fatos, demonstram a cada cidadão a importância das forças de segurança pública. Com elas é ruim, sem elas é pior. Então cada qual deve desgarrar-se dos seus interesses momentaneamente, passando a apoiar o movimento para que tudo seja reestabelecido e as rotinas retornem ao tradicional.

Qualquer greve pode ser considerada crime, de acordo com ponto de vista jurídico e princípios legais, sem que esqueçamos, os interesses do estado. Ao mesmo tempo, os salários podem ser legais, por estarem determinados e registrados em algum papiro com a chancela do estado, mas será sempre imoral, quando não atende necessidades básicas e interesses do trabalhador, inclusive o policial, sendo este, o ponto de vista humano e social.

Direitos de cada um e direitos humanos resguardados ou não, e desconsiderando a desigualdade das forças, quando ocorre uma mobilização de estudantes, estes quebram vidraças, depredam estátuas, sendo sempre, obra de algum exaltado, baderneiro ou infiltrado, que ao agir elimina o elemento pacífico da mobilização, surge o confronto, mas somente a polícia é truculenta. Se uma comunidade resolve bloquear uma via pública, por qualquer reivindicação, a polícia tenta impedir a ocorrência ou negociar uma abertura para o tráfego, iniciam-se reciprocidades de ofensas, mas somente a polícia é truculenta.

Agir com brutalidade, contra cidadãos desarmados e indefesos, é crime de responsabilidade dos comandos. Infelizmente a força policial não é preparada para o diálogo, para o meio-termo. O cidadão, a comunidade, concordam ou não, conforme as próprias necessidades e interesses. Permanecemos quietos, expomos a nossa indignação reproduzindo jargões de apresentadores jornalísticos da TV: “Um absurdo!”, “Isto é uma vergonha!

 Se existe mobilização, inexiste satisfação. Tal insatisfação ao ser exposta, será sempre contrária as regras escritas, as leis, sempre estará desacatando o estado, que imediatamente, considera a mais simples mobilização, imoral, ilegal ou criminosa. Com isto toda a comunidade diz amém, concorda que os mobilizados sejam criminosos, e dizem repletos de razão: - “Mas é preciso cumprir a lei.” – Quando então, me surgem perguntas: 1. Por quê é lei, é justa? 2. Por quê é lei, todos são contemplados? 3. Por quê é lei, não pode ser modificada?

Devido a um vício do estado, que trabalha a partir de princípios positivistas e liberais, quando não absolutistas, o policial aprende a ser opressor em nome do estado, com a finalidade de manter a ordem e o progresso, permitindo a cada cidadão, “liberdade” para desfrutar dos seus direitos e fazer a sua parte no intrincado quadro social. Aos sujeitos que não se enquadram, bastam algumas palavras de ordens e um “start” do comando para que estes mesmos policiais desencadeiem ação furiosa, contra irmãos que sentem os mesmos problemas que eles, mesmo assim, estão cumprindo ordens legais.

Observemos que ao tentarmos defender direitos, ou cobrá-los, somos sempre violentos, basta que se esgotem as alternativas de diálogo e acordo. Foi inclusive por este tipo de comportamento que Trotsky tornou-se inimigo mortal de Stalin. Reclamar que manifestantes estão portando armas e expondo-as, é mais do que necessário, pois é ato de grande irresponsabilidade, falta de estrutura do comando grevista que não é hábil o suficiente para controlar a ira, a indignação e revolta reprimidas dos seus associados.

Vai além do estrutural, a forma como estes homens e mulheres se comportam, são treinados para cumprir ordens dentro de uma hierarquia. Observemos as abelhas, ao perderem a sua rainha, desorientam-se, descontrola-se, morrem. Quer dizer, ao sentirem-se fora da tutela do próprio comando e do estado, aterrorizam-se, pois descobrem que estão por conta própria. A partir deste ponto, os sentimentos represados de opressão e as carências cotidianas, extravasam-se neste lapso de liberdade.

Temos direito a proteção plena do estado, qual tem o dever de fomentar e manter políticas que satisfaçam as necessidades essenciais de cada um de nós. Se existem movimentos em luta, é porque o estado não esta cumprindo com o seu papel, e toda a responsabilidade deve ser direcionada ao estado. O governo por sua vez, falha em não ser capaz de negociar com o comando grevista, que visivelmente, tem a missão acortinada de promover a desestabilização política e enfraquece-lo moralmente diante da população.

O policial militar é trabalhador, assim como outro qualquer, a população precisa de paz, cabe inteiramente ao estado a finalização da pendenga, com um acordo que satisfaça minimamente os anseios da categoria. É preciso também que estes profissionais sejam incluídos em programas de valorização, precisamos de uma Polícia Militar mais humana.

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